quinta-feira, 28 de abril de 2011

Eu saí procurando. Tinha poucas informações sobre o que era. Mas sabia que tinha que encontrar. Não sabia se era pequeno, grande, redondo ou quadrado. Na verdade, não sabia nada. Só sabia que estava por aí, e que chamaria minha atenção quando eu o visse. Não é do tipo de coisa que tu chutas na rua e fica levando lomba abaixo, cuidando pra não atingir nenhum carro estacionado. Tu o enxergas de longe, e corre pra que ninguém o encontre antes de ti. Todo mundo quer. Quase ninguém tem. E quem tem, não mostra (e não me refiro ao brinquedinho). Foi aí que, ao dobrar uma esquina aqui perto de casa, à sombra de um cinamomo, encontro-o, repousando entre folhas e sacos de lixo. Chamou demais a minha atenção. Seria mesmo aquilo que eu estava procurando? Pensava isso porque aquilo me parecia interessante, mas não incitava em mim uma vontade de tê-lo pra sempre. Peguei. Guardei por três meses no meu bolso. E te dei.
Quando a gente não tem uma pequena almofada de veludo pra nela acomodar todos os sentimentos que julgamos ser bons, o "melhor de nós", aquele brinquedinho que é tão brilhante que a gente esconde de quase todo mundo, porque é bonito (precioso) demais (podem roubar), e também pra não ficar ligando toda hora, gastando pilha - enfim, me perdi no aposto - (continuando) quando a gente não tem essa superfície macia, a gente fica segurando na mão, dentro de um saquinho, de pano. O tempo passa e tu enches o saco de ficar segurando aquilo, quase esquecendo do quão bonito é aquele brinquedinho, e esquecendo de vez, depois. Tu esqueces porque tu não abres esse saquinho há tanto tempo que nem se lembra mais o que tem dentro. São tantas as distrações...
Aí tu começas a deixar ele no chão. Foda-se. Em qualquer canto, em qualquer lugar. Perde, até, ás vezes. Aí encontra sem querer, no meio das tuas roupas. Aí perde denovo. Nem se lembra que um dia teve esse brinquedinho, nem pra que ele serve. Aí sim.
É aí que chega o ALGUÉM. Aquele (a, es, ou as) mesmo. Nada nesse mundo te faria acreditar que existiria alguém assim, tão... tão... bom. Tu vais ao cinema, ver um filme qualquer junto dessa pessoa, um Almodóvar da vida, no Espaço Unibanco ali da Augusta, que seja. Tudo se torna tão especial, fica tão cheio de significados que você se entusiasma. "Eu te daria o mundo, agora, se eu conseguisse". "Não precisa me dar o mundo, me dá qualquer coisa brilhante, um brinquedinho".
Tu tateias os bolsos. Moedas, palhetas, notas fiscais, preservativos e cartões de visita. Tu perdeste o brinquedinho.
Não adianta procurar, também. Esse é o tipo de coisa que, quando a gente encontra, a gente não devolve. Não tem dono, não tem nada escrito. Faz parte do mundo e tem um pouco do melhor que há em cada um de nós. E brilhava
De algumas coisas eu tenho medo. Coisas que eu não temia, das quais hoje fujo. Algumas coisas para mim faziam todo o sentido do mundo, mas hoje são borrões de tinta em um papel-toalha de alta absorção. São desenhos abstratos e sem significado algum. Aí eu faço um pose bem blasé e levo polegar e indicador ao queixo. Penso. Procuro um significado. Não há.
É o passado. São as memórias, as crises e todos esses processos que para nada mais servem, a não ser para catalisarem, acelerarem essas evoluções DIGIMÔNICAS.
Hoje me encontro no estágio 3, eu acho. Do alto de meus quase-23 anos, uma caricatura daquilo que eu sonho ser. Uma segunda linha, mais barata, de um amontoado de sonhos que dinheiro nenhum compra. Poético, diriam uns. Poético é o caralho, digo eu. Não tem metáfora aqui. Não gosto de metáforas, mais. Sendo as relações interpessoais tão complicadas como já são, pra quê piorar as coisas, colocar mais ruído na mensagem? O que eu mais quero, e tenho feito tudo para que essa QUERÊNCIA aconteça é ser compreendido, sem precisar dizer. Sem correr o risco de sujar minha mensagem com as malditas metáforas. As analogias distantes que fingimos entender, sorrindo.
Se eu sair do seu lado e caminhar para um canto de onde eu possa observar tudo, não se preocupe. Não aconteceu nada. Não comigo. Aconteceu com tudo ao meu redor.
Desse canto escuro, te observo, estudando a língua dos olhos.
Uma coisa é tu veres uma pessoa e ficares feliz, triste, nervoso ou até com raiva. Mas o problema - que tem sido cada vez mais comum na minha vida - é quando não sei o que sentir ao ver algumas pessoas. Olho para mim e vejo uma centena de pontos de interrogação orbitando meus pensamentos. Não que essas pessoas não imprimam reação nenhuma em mim. Longe disso. É que são espíritos tão intensos, belos e cheios de detalhes fascinantes que a única sensação que tenho é a de estar sendo bombardeado a todo instante, sendo atingido por todo tipo de projétil, em cada centímetro do meu organismo, em cada vez que essa pessoa dirige a palavra a mim. E dessa confusão surge uma enorme vontade de sentir aquilo denovo, de tentar ver quanto tempo eu consigo ficar ali, e de ser bombardeado denovo, até que todos esses destroços formem uma figura que eu possa compreender, e dar a ela um nome.
E eu sou péssimo para nomear as coisas. A previsibilidade torna-se um fator desencadeador de tédio e nenhuma das pessoas legais, chatas, ou mais-ou-menos te despertam interesse. Tudo que tu queres é rever aquela que te diz muita coisa só com um movimento de olhos e tu não consegues assimilar nem dez por cento de tanta informação. Queres andar todos os quarteirões do mundo com os olhos fitando o chão, descobrindo desenhos em lajotas, com mãos tateando bolsos vazios e sorrir a cada passo que essa pessoa dá ao seu lado, sempre desviando inconscientemente dos rejuntes. Enquanto isso não acontece, vivo inventando palavras para dar nomes a esculturas abstratas.
Você sente? O que é que você sente? Você sente porque sente ou você sente porque quer sentir? Existem sentimentos idealizados, coisas que os poetas e escritores colocaram em nossa cabeça, coisas das quais sentimos falta, e necessidade de sentir, mesmo sem nunca ter tido nada semelhante. Tais sentimentos existem, ou seriam apenas criação de cérebros desocupados? Segunda opção, pra mim. Vivemos numa eterna busca por sentimentos idealizados, como se procurássemos por tesouros inexistentes, como que cavando buracos em cômoros.
* E nós estamos sempre querendo sentir. Queremos com tanta veemência, que não sabemos se estamos sentindo de verdade ou se estamos forçando a barra, fazendo tudo que é possível para acreditarmos que estamos realizados, felizes e... sentindo as coisas. Às vezes me pego sentindo nada, ou quase nada, mesmo quando tudo que quero é sentir algo. Tanto quero sentir que praticamente acredito na minha própria mentira. Acredito tão piamente que sinto que acabo sentindo, quando na verdade nada sinto.
Me vêm à mente tons menores, graves, em acordes tocados nos bordões. Chegam à minha boca apenas os impropérios, os mais sujos xingamentos. Chocam-se contra as paredes gritos agudos, ora muy desagradáveis, como o cheiro ruim do pote de mostarda que passou o verão inteiro esquecido no fundo da geladeira.
Me vêm à mente as notas mais sombrias, os timbres ásperos e a interpretação errada. É o caminho errado passando por debaixo dos meus pés. É uma catraca que leva para outra linha sem fim, disfarçada de linha de chegada.
É uma luta, que, quando é a segunda, vira revanche. Todo mundo tem somente uma chance de revidar. Uma pequena janela de tempo em que a gente pode se esgueirar e emendar-lhe uma bocha na cara de alguém.
A gente golpeia o ar, pra que ele se enegreça de raiva ao redor de você. É a revanche que, quando benfeita, vira justiça.

Mas, mesmo assim, eu continuo.

Firme e forte. Diretor, produtor executivo e roteirista do filme da minha própria vida. Nada mais justo (e rentável) do que dar a ele um andamento coeso, e cativante. Procuro sempre ser cativante. E isso também cansa.
Mesmo reclamando de tudo isso, prefiro permanecer assim. Prefiro distribuir VUADÊRAS e PONTA-PÉS por aí, trajando um belíssimo calção PERUSSO do que ser coadjuvante de uma história que está totalmente fora do meu controle, um mero espectador, ausente, impotente. Posso não controlar, mas quero protagonizar isso tudo, de cabo a rabo. E ninguém vai tirar de mim esse papel, afinal, O FILME É MEU, POMBAS.
Me encontro em um momento de recomeço. Reborn. Meu filme foi documentário por muito tempo. Chega.
Hoje sou ficção. E prefiro permanecer assim, protagonizando um filme sem fim, dirigindo coadjuvantes aleatórios e invariavelmente RICOS, COMPLEXOS, PROFUNDOS.

A tua onipresença

Os meus pensamentos parece ter feito o resto do mundo evanecer frente aos meus olhos. Eu consigo facilmente enxergar teu vulto sob a luz dos postes, bem como o teu reflexo ao lado do meu, nas vitrines das lojas. A TV tenta, mas não consegue abafar o som da tua voz, cujo calor provocado pela proximidade da tua boca me fez esquecer do frio que faz lá fora. No lugar de onde venho, sempre faz frio lá fora, e eu levo A vontade de sanar esse frio me trouxe até você. E, agora, com teus passos ecoando junto aos meus, acho que não consigo mais andar sozinho. E, mesmo que eu consiga, não quero fazê-lo. Hoje eu sei como é a sensação de acordar e ver que aquele sonho antigo nada mais é do que a atual realidade.
Uma coisa é você respirar. outra completamente diferente é você tomar a decisão de colocar ar pra dentro dos pulmões segundo sim, segundo não. Sim, é instintivo, é um reflexo, mas por inúmeras vezes já me flagrei cogitando privar meu sangue desse oxigênio que, aos poucos, escasseia, mas ainda me cerca em abundância. É que, em tudo que eu faço, existe uma intenção - por vezes inconsciente - de fazer com que tudo, pelo menos, pareça ter saído conforme planejado. Finjo ter previsto tudo que hoje me acontece quando, na verdade, mal sei onde meus pés me levarão no próximo passo.
São cinco horas da manhã e meus pulmões precisam de mais ar do que eu posso dar a eles. Respiro rápido, quase ofegante, logo, sem tempo de pensar. Os dias são cada vez mais curtos e muitas coisas têm acontecido de forma tão rápida e intensa que muitas coisas têm me escapado aos olhos. Quando as vejo, já são pegadas, rastros, ou pequenas silhuetas difusas no horizonte eu deixei pra trás.
Sou pego de surpresa pela sensação de caminhar sobre a mais fina camada de gelo, combinada pela paranóia de processar, de arquivar e documentar tudo a que tenho sido acometido. Algo me diz, lá no fundo, que absolutamente tudo pelo que tenho passado é e vai ser muito importante. Muito importante.
Enfim, é bom sentir medo. Estranho é estar inseguro. É bom não saber o que acontece amanhã. Ruim é não ter o que fazer hoje.
Passa pra mim que eu jogo na lateral esquerda. Corro o mais rápido que posso, sem jamais olhar pro lado. Chegando na ponta da área, eu não cruzo. Meto uma bica rumo à meta. Quase sempre pra fora. O centro-avante reclama do meu individualismo.
Eu sempre amarro minhas chuteiras como se me preparasse para o jogo da minha vida. O juiz autoriza a saída de bola, e hoje é dia de gol.
Abri os olhos, e, daqui pra frente, vou respirar sempre o mais fundo que eu puder.
Eu realmente gostaria de fazer sentido. Consigo ver perfeitamente o estranhamento que causo em algumas pessoas. Essa intensidade desmedida choca, e gera dúvidas acerca da autenticidade de tudo que eu sinto. Mas eu sinto. E sinto muito, tanto que chega a parecer que é mentira, encenação, que eu não sinto absolutamente nada. É como um vício, como se eu estivesse sempre procurando um motivo pra sair da normalidade, do stand by, pra transcender a vida comum e os sentimentos amenos. É como se eu me forçasse a apaixonar-me toda semana, e sempre por um novo alguém. Eu chego ao cúmulo de quase-inventar histórias, quando encontro dificuldade em vivê-las de verdade. Mas eu as invento de forma tão convincente que a maioria delas se transcreve na minha vida, nos meus dias. Eu realmente gostaria de ser compreendido. Isso me leva a concluir que somos realmente capazes de viver as histórias que inventamos, mas não como o lunático que crê ser Napoleão Bonaparte. É que com alguma insistência, um pouco de prática e um punhado de sorte, eu fui capaz de te trazer pra minha história, que acabei de começar a escrever. Você nem sabe que faz parte dela, que age conforme regem as linhas que eu escrevo, mas você já foi escalada pro seu papel, e ele é de protagonista.
Eu realmente gostaria que você acreditasse em mim.
Cabe a mim viver essa história, de forma tão fiel que mentira e verdade se fundam em uma narrativa com início, meio, e um fim, cujo decreto cabe à minha caneta. Cabe a você deixar-se ser escrita, e eu tenho muita coisa pra contar. E não precisa dizer que eu não te conheço, que isso não faz sentido, que eu estou enlouquecendo. Eu sei muito bem disso. Sei que os diagnósticos possíveis sao muitos e que os prováveis são alguns, mas meu médico sou eu mesmo e eu acabo de receber alta.
Eu realmente gostaria.
O que eu posso dizer é que sempre procurei por isso, sempre esperei por isso, sempre escrevi sobre isso, sem saber o que era. E somente eu sei quanto tempo levei pra te encontrar. E hoje tenho você aqui, comigo.
Que as duas-voltas-e-meia da minha chave sempre encontrem no teu peito o mesmo intenso e inédito sentimento que me fez abrir todos esses precedentes. Eu fecho os olhos e encontro no amanhã nada menos do que a crescente proximidade do teu retorno. E somente as paredes da minha casa são testemunhas do meu sorriso.
Posso parecer feito de certezas, quando, na verdade, não passo de um homem cheio de dúvidas. Mas são essas dúvidas que me guiam atrás de respostas. E o que eu digo aqui, eu aprendi durante essas buscas infindáveis. Quantas vezes acabei encontrando uma pergunta ainda mais inquietante, quando tudo o que eu queria era uma resposta curta e certeira. Não há. Nunca houve. Algumas delas o espelho me conta, quanto a outras, me dá somente dicas confusas. E tem também aquelas que são tão complicadas que eu nem sei por onde começar a perguntar. E é por não ter respostas para tudo que eu acabo escrevendo pra mim mesmo essas perguntas. Um dia eu vou saber responder. E vou escrever na minha alma, para que todos leiam por detrás dos meus olhos.
Nem tudo é como a gente quer. No entanto, isso não quer dizer que não é tudo que precisamos. Muitas vezes, essas coisas que a vida nos coloca pelo caminho são bem melhores do que a gente esperava. Veja bem, a hora mais bonita do dia é aquela em que o céu fica vermelho, e não azul. As mais belas noites são aquelas poucas em que a lua pega emprestada quase toda a luz do sol e a gente não precisa de lanterna pra caminhar. Exemplos não me faltam: a gente só ama o frio porque pode se envolver em mil casacos e cobertores, bem como agradecemos pelo escaldante sol de verão somente após mergulharmos num mar gelado. Eu posso não ser o que tu esperavas, mas a gente não escolhe o que quer sonhar quando coloca a cabeça no travesseiro. E que atire a primeira pedra quem não gosta de sonhar aqui. Eu posso não ser o que tudo que tu precisavas, mas a gente vive e morre sem saber do que realmente precisamos. Eu posso não bastar. Então que baste o amor.
Eu posso não ser um monte de coisas, mas tenho certeza de tudo aquilo que sou: um céu vermelho, uma noite de lua cheia, um cobertor e um banho de mar, e tudo o mais que tu quiseres viver junto de mim.
Impressionante a capacidade que pessoas aleatórias têm - de ser "a melhor pessoa de todos os tempos". Todo dia, andando pela rua, eu me deparo com uma pessoa que eu nunca vi na vida e penso: "eu preciso conhecer essa guria", "ela é a melhor pessoa do mundo". E vale salientar que eu não me prendo apenas à beleza física, ou na escolha das roupas, nem mesmo naquele mais-puro-charme, quando penso nisso. É uma questão de vibrações. E eu falo de "vibrações" no sentido menos hippie da palavra. É como se vibrássemos em freqüências semelhantes. É como se eu mandasse sinais, códigos, para todos os lados, e esses códigos coincidissem com os dela. Se ela é mal-educada, não sei. Burra? Não sei! Tem mau hálito? Como saber, se eu nem conversei com ela? "E por quê eu não cheguei e falei?" - me pergunto, em "Depois de Voltar". A resposta me vem à cabeça antes mesmo de colocar a interrogação no final do verso. É que eu não poderia suportar o fato de saber que essa pessoa não é a melhor pessoa do mundo. Eu não gostaria nem um pouco de saber que trata-se de uma pessoa comum, cheia de defeitos e características que eu possa vir a detestar. Eu não quero que ela seja desse mundo.
Então eu prefiro me agarrar a esses poucos minutos em que eu fico imagino. Eu penso que aquele olhar meio perdido, que lembra muito o meu, não é uma coincidência. Eu penso que ela só não me viu porque, assim como eu, está com a cabeça nas nuvens e, de lá, manda sinais, também para todos os lados. E é assim que eu me apaixono, meus caros, mesmo que seja por um punhado de minutos. Todo dia é assim. No entanto, se existe alguma coisa que me motiva a sempre sair na rua e mandar esses sinais sem destinatário, é o fato de eu acreditar nas coincidências absurdas que se escondem por detrás de todas essas esquinas. De alguma forma, lá no fundo, eu sei que vou tropeçar em ti, mais cedo ou mais tarde. Sei que não vai haver distração capaz de tirar o teu olhar do caminho do meu. Algo vai acontecer, e os nossos sinais vão se coincidir, vamos colidir de forma tão violenta que a nossa vibração vai ser uma só. Vamos ressonar, pra todo mundo ouvir e voltar a acreditar que as "melhores pessoas do mundo", de fato, existem. Aí eu virei aqui pra contar que o destino realmente existe, e que muitas das nossas melhores histórias são escritas a quatro mãos, de olhos fechados, e sem revisão ortográfica.
Quando eu digo que o futuro é agora, quero dizer que o final dessa história depende do começo, da primeira linha, da primeira palavra. É por isso que eu pego a caneta pra escrever os meus dias nas calçadas, nas marquises, vitrines e paredes. É por isso que eu vou vagar sem rumo, sem mapa, por essas ruas, seja de São Paulo, ou de qualquer outro lugar do universo. É porque eu tenho certeza de que, um dia, eu vou tropeçar em ti, mesmo que tu ainda não exista. Mesmo que tu sejas uma utopia, uma ilusão que eu criei na minha cabeça. Mesmo que tu não passes de uma paixão-de-5-minutos. Mesmo que, para isso, eu tenha que esquecer como é que se volta pra casa.

Foi como ácido.

O avião se transformou Coca-Cola com baunilha.
Meia-comédia, meio sem jeito. Um frio que virava calor quando batia no peito.
"Deixe de lado os olhares estranhos. Aceite seus erros, acertos e esqueça seus planos. Para tudo! Para tudo!", repetia.
Não parava de repetir.
Eu deixei tudo de pupilas dilatadas, e afinal, nunca é hora errada, não existe hora certa.
Não tem "não", não tem regra do "porque".
Eu resolvi parar.
"Vai dormir sabendo", uma única vez. Sem repetir.
É. Tem sido surreal, às vezes angustiante e, ao mesmo tempo, magnífico, viver os meus dias. Só me assusta o fato de que um dia minhas sinapses ficarão lentas demais e eu vou começar a perder essas memórias. Não posso esquecer de tudo isso. Este coração que tu levaste praí é o meu. Traz de volta, por favor.
Estou aqui com o teu.
Não sei bem o que é, mas há algo presente em cada centímetro do teu sorriso que me dá vontade de chutar a porta que dá pra rua e sair correndo, sem saber onde fica a minha casa. Há algo que me priva de usar todas as artimanhas que eu colecionei, que me faz esquecer todas as minhas frases de efeito e que faz com que tudo que eu faça/diga pareça de uma imbecilidade infantil.
Não sei bem o que é, mas há algo presente em cada palavra que tu me apontas, que sopra em meu ar essas bolhas de sabão. A trajetória dessas pequenas bolsas de ar é tão imprevisível, tão frágil, que eu fico com medo de tocá-las. E são tantas, essas bolhas, que eu não sei atrás de qual delas eu vou correr. Aí eu fico parado, te não-ouvindo, te não-olhando e, sempre, invariavelmente, não sorrindo.
Eu fico sem saber o que fazer.
A gente não se encontrou. A gente se colidiu. Somos um trágico e monumental acidente de trânsito onde tudo faz sentido. Cada barra de aço retorcido que me cutuca por dentro os pulmões quando estou apenas tentando respirar parece ter lá sido colocada por divina providência. O fogo, que encontra uma nova poça de combustível a todo momento, exibe aos transeuntes e curiosos fagulhas de todas as cores, em explosões na forma de cogumelos.
Somos o choque. Somos a tragédia, mas sabemos que sem o outro somos meras ruas vazias. Vazias e paralelas.
De repente você vê que aprendeu várias coisas. Mas não foi de repente, foi aos poucos. "De repente" não quer dizer que você aprendeu rápido. Quer dizer que você não percebe que está aprendendo, até que aprende.
Você olha pra suas fotos antigas e não consegue se enxergar. Você lembra de frases ditas e atitudes tomadas e as trata como se fossem de um outro alguém. Você aprende que não há amor que não acabe, doença que não se cure, não há estrada sem fim. O caminho, sim, é sem fim. Basta torcer para estar percorrendo o caminho certo. Basta perceber que o seu caminho é errado e esperar pelo próximo retorno. É uma estrada de duas mãos.
De repente, você se sente cansado de tanto aprender quando, na verdade, você está é cansado de estar rodeando de gente que não aprendeu porra nenhuma. Não te preocupa. Todos aprendem, cada um a seu tempo. O problema é que alguns demoram tanto que acabam morrendo antes da primeira aula.
Talvez você tenha aprendido mais que eu, ou até menos, ou então aprendido coisas diferentes, ou matado todas as tuas aulas mais importantes. Não sei mesmo, mas minha única certeza é que eu não concordo com uma vírgula do que você diz.
Por muitos dias, pensei em trocar o meu nome. Acreditava ter havido algum engano durante o meu batismo. "Eu me chamo Angústia" - pensava. Não via sentido em ser chamado de Luz, pois tudo que eu perseguia era a sombra de algo que jamais esteve lá. Acredite, é impossível procurar algo que a gente não sabe o que é. Eu parei de procurar, e te vi sentada ao meu lado na fila de espera por alguma coisa qualquer. Eu procurava alguma coisa que justificasse todas essas palavras que eu cuspo em todas as direções, sobre uma vida que eu sonhava viver. Nada foi em vão. Hoje sei que nem a mais profunda escuridão vai me impedir de enxergar teu rosto, mesmo com os olhos fechados.